terça-feira, 11 de junho de 2013

Sobre (meu?) desenho II




As idéias de contingência e continuidade são, aqui, importantes para a construção de meu ponto de vista. Implicações com a noção de incerteza, com a indeterminação das causas, com a relatividade das “coisas”, umas em relação às outras. Jasper Johns resolve este problema do modo mais pragmático: “pegue uma coisa, faça outra coisa desta coisa” [i]. E eis a mais imediata fundação da Arte na condição humana.

Mas, quanto ao sujeito, como expor um processo que acontece interiormente, aquilo que é a linguagem mais próxima da intimidade? Sendo escuta, o desenho é também narrativa, e assim se explica a dialética do sujeito, da sua vida interior, e daquilo que ele (re) presenta no mundo exterior.

Haver-se-ia, então, de desenrolar e recolher cuidadosamente o fio (a linha, o risco) que percorre o labirinto, marcando o percurso, no sentido de tornar observável o conjunto de operações que dão consistência e conteúdo a uma obra de desenho. Desde já, a definição do sistema desenho « desenhador, com as implicações construtivas que decorrem deste par:

Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela,
Será que ela mexe o chocalho ou o chocalho é que mexe com ela?
Chico Buarque

Foi Sérgio Franco[ii] quem primeiro percebeu a metáfora sensível contida no verso para explicar a dialética construtivista. Ela serviu-me, em outro momento, como princípio para pensar o processo cognitivo da construção arquitetônica[iii]: o arquiteto transformando o espaço gráfico e sendo transformado por ele. A mesma imagem serve-me, agora, como ponto de partida para examinar meu próprio percurso de desenho.






[i] Take an object. Do something to it. Do something else to it. Do something else to it. Uma versão desta frase de Johns está  fixada no ateliê 43.
[ii] FRANCO, S. R. K. (2002). Piaget e a dialética. In: Revisitando Piaget. Porto Alegre: Mediação, 2002. p. 9-20.
[iii] Ver ANDRADE, L. M. V. (2011). Construção e abertura: diálogos Christopher Alexander – Jean Piaget. Porto Alegre: PROPUR-UFRGS (tese de doutorado).

sobre (meu?) desenho




O desenho é uma forma de escuta. Registro da calma ou do caos. Forma de pulsão que carrega, num mesmo movimento, seu processo de (re) construção. Onda e partícula! Começa com um traço, se espalha num risco, se impõe através da linha: totalidade relativa, propícia à insurgência da figura. Não por acaso, desígnio; não por acaso, desejo. As palavras de Carlo Scarpa, que empresto para situar este (con) texto, definem o objeto: objeto de desenho que se auto-organiza continuamente, contingentemente.


domingo, 9 de junho de 2013

Como definição



Desenho porque quero ver… (Carlo Scarpa)



Desde seu significado (mais intimamente) vivido, este blog busca tornar-se um registro (escrito, desenhado, fotografado, xilografado, e talvez mais...) das minhas vivências e experimentações no Instituto de Artes da UFRGS e de seus entornos. Convido, a quem interessar possa, à crítica.

Leandro Andrade